segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

falcão da noite

este espaço terminou. com uma ou outra diferença, a sua existência enquanto fantasma será continuada aqui. a ver se a mudança carrega consigo o necessário esforço para que o torpor / silêncio não se instale. ou desconforte.

sexta-feira, 20 de março de 2009

flutuações

Apesar do culto exacerbado em seu redor, e não querendo entrar no campo da desmistificação contra-reaccionária, nunca vislumbrei nas pocahaunted qualidades que justificassem essa euforia. momentos existem em que o modus operandi do duo consegue resultados verdadeiramente estimulantes (emerald snake on ruby velvet ou haunted gathering), no entanto, o uso ad infinitum dos seus maneirismos* tem levado gradualmente ao torpor conformista. o imaginário apache poderá ainda conduzir ao escapismo, mas por ora gold miner`s daughter não deixa de ser mais do que a aplicação de uma fórmula. eficaz, mas perigosamente próxima da vulgaridade inócua que sabota as experiências** de alguém tão prolífero em lançamentos. e não é o uso de percussão (usado para bom efeito na trilogia island diamond / mirror mics / chains) que salva esta edição da excite bike de resvalar para a mediocridade.

*cantares índios/xamânicos sobre 2 acordes menores de guitarra em câmara lenta

**fará ainda sentido apelidar de experimental algo tão formulaico?

ainda longe do mastigar pernicioso do post-rock, mas a palmilhar terreno...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

trivette


pouco dado às artes do garimpar, pérolas acidentais revelam-se bem mais valiosas do que aparentemente demonstram. rangers foi a melhor deste início de 2009. projecto solitário de um tal de howard bob johnson (do mui recomendável we shot jr) tem aquele cheirinho delicioso a fotocópia p/b e cassete desgastada, a engolir os detritos da cultura pop para os regurgitar em tom de regozijo alienado. james ferraro inspired, claro...mas isso é apenas valor acrescido.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

high places - s/t

texto feito para o bodyspace não publicado:

Depois de anos e anos embrenhados numa estética urbana cosmopolita ou na revisitação psicadélica de espaços bucólicos, a estranheza da pop de carácter indie parece agora cada vez mais embrenhada em encontrar coordenadas que levem a um imaginário marcadamente tropical e/ou étnico (deixar de fora o horrível termo world music). Não sendo os Animal Collective os únicos ou mesmo principais causadores desta fixação com umas Caraíbas inventadas, são no entanto caso paradigmático de uma atenção redobrada pela parte de um público semi-aventureiro interessado nas mutações de uma pop cada vez mais fragmentada e atenta à dança africana ou a invocações vudu. Com maior ou menor sucesso ou afinidade para com esta aculturação, nomes como Gang Gang Dance, Yeasayer ou El Guincho viram as suas visões caleidoscópicas receberem um devido reconhecimento pela parte da crítica e do público. Seja a estranheza pela estranheza (sentimento esse que se vai inevitavelmente dissipar) ou uma forma gratificante de enriquecer as composições, por ora o "embuste" vai-se mostrando devidamente eficaz.

Crescidos (como não poderia deixar de ser) na Brooklyn de todas as experimentações, os High Places têm vindo desde 2006 construindo um pequeno culto entre os meandros mais far-out da música norte americana graças aos seus recomendáveis singles (compilados em 03/07-09/07) e concertos de envolvência naturalista. Construindo as suas canções com base em sons voláteis e fugidios e percussão esparsa a atirar para textura sobre ritmo, constrói-se a ponte entre o lado näive da pop indie-friendly (muito por causa da voz desinteressada e cândida de Mary Pearson) e o experimentalismo fractal característico da Nova Iorque efervescente.

Partindo de uma palete sonora expansiva (guitarra, teclados, samples) mas onde impera uma certa “pobreza” nos recursos escolhidos (palmas, parafernália de cozinha, shakers roufenhos), nunca se deixam perder em viagens pseudo-alucinatórias sem destino, para se alimentarem em canções doces e concisas. Mantendo essa toada pueril ao longo de todo o álbum homónimo, acabam invariavelmente por se refugiar nessa mesma estranheza agradável a resvalar perigosamente para inocuidade. Escapando a estas armadilhas com recurso a uma enorme imaginação nos arranjos, erigem o seu som caloroso através da vegetação densa, ao qual a voz monocórdica de Mary Pearson retira algum encanto, desencantada ela própria por entre o reverb. “You in Forty Years” ou “Visions of the First” são disso mesmo paradigma, recolhendo-se timidamente quando se pedia alguma euforia. Os tais high places que o duo certamente almeja não pairam muito longe daqui, mas por ora preside à festa apenas o seu lado lúdico faltando ainda o cerimonial da elevação. Consta que a calypso não era de todo desprovida de uma dimensão religiosa, pena que a apropriação feita pelos High Places tenha sido meramente material.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

bmx

inexplicavelmente, em momentos pouco dados a novas audições, regresso sempre aos mudhoney e aos sebadoh...ainda bem. e pensar que passei tantas horas a ouvir merdas de shoegazing completamente irrelevantes como os catherine wheel ou chapterhouse. é por momentos destes que me arrependo disso*
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a pertinência deste post está no facto que ambos viram os seus melhores discos reeditados recentemente. superfuzz bigmuff é atentar nos nomes dos pedais de distorção e recordar o bleach com um carinho especial (e como era aliciante ser monocromático). bubble and scrape é final de tarde boémio sem desdenhar a conversa casual/interessante. tem também as melhores canções do gaffney.
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*nota mental: comprar um walkman

domingo, 30 de março de 2008

ancinho

3 anos desde "pine cone temples" e quando não esperaria mais nenhum registo dos thuja, aparece-me este homónimo a relembrar-me porque razão o jewelled antler andou mais pobre nos últimos tempos. "owl" e "anchorite" do steven r. smith pareceram colmatar de forma mais do que digna a ausência. mas nada poderá compreender as esquinas de uma sala como "the deer lay down their bones" ou criar magia do húmus como "ghost plants". este último (termo em tudo diferente à essência dos thuja) capítulo é recordar o cheiro da terra nas primeiras chuvas de outono, e todo o conforto que acarreta.

coord.: ferrugem/seiva > visitar amigos > tertúlia de fim de tarde > memória olfactiva