sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

high places - s/t

texto feito para o bodyspace não publicado:

Depois de anos e anos embrenhados numa estética urbana cosmopolita ou na revisitação psicadélica de espaços bucólicos, a estranheza da pop de carácter indie parece agora cada vez mais embrenhada em encontrar coordenadas que levem a um imaginário marcadamente tropical e/ou étnico (deixar de fora o horrível termo world music). Não sendo os Animal Collective os únicos ou mesmo principais causadores desta fixação com umas Caraíbas inventadas, são no entanto caso paradigmático de uma atenção redobrada pela parte de um público semi-aventureiro interessado nas mutações de uma pop cada vez mais fragmentada e atenta à dança africana ou a invocações vudu. Com maior ou menor sucesso ou afinidade para com esta aculturação, nomes como Gang Gang Dance, Yeasayer ou El Guincho viram as suas visões caleidoscópicas receberem um devido reconhecimento pela parte da crítica e do público. Seja a estranheza pela estranheza (sentimento esse que se vai inevitavelmente dissipar) ou uma forma gratificante de enriquecer as composições, por ora o "embuste" vai-se mostrando devidamente eficaz.

Crescidos (como não poderia deixar de ser) na Brooklyn de todas as experimentações, os High Places têm vindo desde 2006 construindo um pequeno culto entre os meandros mais far-out da música norte americana graças aos seus recomendáveis singles (compilados em 03/07-09/07) e concertos de envolvência naturalista. Construindo as suas canções com base em sons voláteis e fugidios e percussão esparsa a atirar para textura sobre ritmo, constrói-se a ponte entre o lado näive da pop indie-friendly (muito por causa da voz desinteressada e cândida de Mary Pearson) e o experimentalismo fractal característico da Nova Iorque efervescente.

Partindo de uma palete sonora expansiva (guitarra, teclados, samples) mas onde impera uma certa “pobreza” nos recursos escolhidos (palmas, parafernália de cozinha, shakers roufenhos), nunca se deixam perder em viagens pseudo-alucinatórias sem destino, para se alimentarem em canções doces e concisas. Mantendo essa toada pueril ao longo de todo o álbum homónimo, acabam invariavelmente por se refugiar nessa mesma estranheza agradável a resvalar perigosamente para inocuidade. Escapando a estas armadilhas com recurso a uma enorme imaginação nos arranjos, erigem o seu som caloroso através da vegetação densa, ao qual a voz monocórdica de Mary Pearson retira algum encanto, desencantada ela própria por entre o reverb. “You in Forty Years” ou “Visions of the First” são disso mesmo paradigma, recolhendo-se timidamente quando se pedia alguma euforia. Os tais high places que o duo certamente almeja não pairam muito longe daqui, mas por ora preside à festa apenas o seu lado lúdico faltando ainda o cerimonial da elevação. Consta que a calypso não era de todo desprovida de uma dimensão religiosa, pena que a apropriação feita pelos High Places tenha sido meramente material.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

bmx

inexplicavelmente, em momentos pouco dados a novas audições, regresso sempre aos mudhoney e aos sebadoh...ainda bem. e pensar que passei tantas horas a ouvir merdas de shoegazing completamente irrelevantes como os catherine wheel ou chapterhouse. é por momentos destes que me arrependo disso*
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a pertinência deste post está no facto que ambos viram os seus melhores discos reeditados recentemente. superfuzz bigmuff é atentar nos nomes dos pedais de distorção e recordar o bleach com um carinho especial (e como era aliciante ser monocromático). bubble and scrape é final de tarde boémio sem desdenhar a conversa casual/interessante. tem também as melhores canções do gaffney.
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*nota mental: comprar um walkman

domingo, 30 de março de 2008

ancinho

3 anos desde "pine cone temples" e quando não esperaria mais nenhum registo dos thuja, aparece-me este homónimo a relembrar-me porque razão o jewelled antler andou mais pobre nos últimos tempos. "owl" e "anchorite" do steven r. smith pareceram colmatar de forma mais do que digna a ausência. mas nada poderá compreender as esquinas de uma sala como "the deer lay down their bones" ou criar magia do húmus como "ghost plants". este último (termo em tudo diferente à essência dos thuja) capítulo é recordar o cheiro da terra nas primeiras chuvas de outono, e todo o conforto que acarreta.

coord.: ferrugem/seiva > visitar amigos > tertúlia de fim de tarde > memória olfactiva

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

mesmo

...em abono da verdade, muito mais (todas?) bandas deviam compreender as dinâmicas dos dire straits

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

passadeira II

uma vez que o tempo e a paciência não me têm permitido escrever mais frequentemente neste espaço, volto a deixar um mapa para uma resenha que fiz a closer to the cliff dos robedoor

2008 ainda não mostrou muita actividade no submundo, mas para já owl do steven r. smith é (de longe) o melhor álbum que ouvi em 2008. talvez escreva algumas linhas sobre ele entretanto.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

passadeira

podem ler aqui a minha resenha a "it`s after dark" dos religious knives

como forma de tornar este espaço minimamente performante, passarei a deixar links de resenhas mais extensas escritas para outro(s) espaço(s) que de algum modo fariam sentido aqui.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

mapas

uma das melhores descobertas em formato blog de partilha dos últimos meses (já tardia...mas premente), é esta pequena maravilha dedicada a cassetes de música africana. todas as edições que ouvi são recomendáveis, ainda assim (e sem as ter ouvido todas) destaco:

la grande vedette malienne kandja kouyaté et l'ensemble instrumental du mali - st

soterrados em reverb, os arranjos surreais elevam a música flutuante do ensemble para territórios de misticismo psicadélico.

mariam bagayogo - vol. 2

centrado em redor da instrumentação assombrada do balaphon, redescobre-se a hipnose da repetição que pode até evocar o minimalismo de steve reich.

nota pessoal: a partir de agora todas as minhas resenhas serão desprovidas de reticências desnecessárias

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

rir do medo ?

"dispersed royalty ornaments" tem vindo a tornar-se no álbum mais essencial dos skaters até à data...o que para uma banda cuja discografia passa já as duas dezenas de lançamentos é um factor a ter em conta...reminiscente da sua faixa no fantástico split que partilharam com axolotl...desta vez transportaram a escalada fantasmagórica pelo poço para os duas faixas que compoem o vinil de edição da wannabe rec...descarta o confronto patente noutros trabalhos onde se entregavam com maior incidência ao uso do ruído...para abraçar as toadas quase ritualista que marcavam alguns dos seus melhore momentos...não se depreenda no entanto que este suposto ritual assuma qualquer forma identificável com qualquer acto de devoção...pelo contrário o segredo reside mesmo numa tentativa de escapar a qualquer formatação que possa advir de projectos desta natureza...as sempre inventivas vozes (que são afinal a substância do duo) são pragmáticas desta recusa...em fuga constante da subtil percussão que não tem outro efeito senão uma existência fulcral como memória...tanto parecem embrenhar-se em espirais de sofrimento como divertir-se às custas do medo...obviamente que nos sentimos confusos quando dois pseudo-hippies obcecados com o horror se dão a tais manobras catárquicas mesmo sabendo de antemão que o rosto fechado que a sua música encerra nunca poderá ser levado a sério...mas mesmo assim o medo se esgueira...e raramente este se dá a conhecer de maneira tão frontal (consonante com essa mesma confusão de quem não sabe o que fazer...) como ao longo destes cerca de 40 minutos...ou como um sorriso pode ser tão assustador como um grito mais ainda é quando não sabemos aquilo que é...